Com a valorização do produto final, o tecido feito de curauá pode disputar espaço com materiais sintéticos e derivados de petróleo

A moda é uma poderosa ferramenta de expressão, onde indivíduos e coletivos comunicam cultura, identidade e posicionamento. Ao mesmo tempo, ela também reflete os hábitos e os valores de cada época — como exemplifica a era do fast fashion.
Em contraposição à ascensão da cultura da obsolescência, um projeto nascido no coração da floresta amazônica propõe a inversão da lógica de produção: a partir do curauá, — uma fibra resistente e biodegradável — a indústria da moda começa a se conectar com a terra.
Com aparência de um pequeno abacaxi, o curauá (Ananas erectifolius) surpreende por sua resistência: testes indicam que sua fibra é mais forte que o sisal e comparável ao vidro.
O uso, em peças automotivas e até aeroespaciais, já é discutido por pesquisadores da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Mas até então, o potencial no mercado têxtil seguia praticamente inexplorado.

É exatamente essa lacuna que a estilista Thais Arévola, fundadora da grife manauara Arévola Gallery, está decidida a preencher. Em abril de 2025, ela lançou a coleção “Alvorecer” — um marco para a moda autoral produzida no Norte. A coleção não só apresenta as primeiras roupas confeccionadas com curauá, mas também reestrutura a cadeia produtiva que começa em Novo Remanso, para chegar nas passarelas nacionais.